14 out Refluxo pode causar dor de garganta?
Como já comentei em outro post, a dor de garganta pode ter diversas causas e, dentre elas, causas não infecciosas como o refluxo.
Na doença do refluxo gastro-esofágico, o “retorno” do líquido gástrico para o esôfago (que até certo ponto ocorre em todas as pessoas normais) acontece de forma acentuada a ponto de causar sintomas no paciente. Os sintomas “clássicos” do refluxo são geralmente de azia, queimação na região do estômago, regurgitação ou sensação de estômago pesado (dispepsia). No entanto de forma atípica, o refluxo pode causar sintomas “fora” da região gastrintestinal, como nas vias aéreas (na laringe e nos brônquios). Não se sabe exatamente como o refluxo gera esses sintomas em áreas distantes e esse é um assunto ainda muito debatido. No caso da laringe, em específico, é comum que o paciente sinta os sintomas de uma laringite (inflamação da laringe), que muitas vezes vêm desacompanhados dos sintomas clássicos de refluxo já citados. Esses casos são atípicos embora ainda muito comuns, sendo inclusive chamados na otorrinolaringologia de refluxo “faringo-laríngeo” (pela predominância dos sintomas na laringe).
Hoje, a doença do refluxo é considerada uma das mais importantes causas de laringite crônica, ou seja, de inflamação de laringe por um período prolongado (por definição, por pelo menos 3 meses, apesar de que na prática pode ocorrer em laringites de menor tempo de duração).
Os sintomas de uma laringite podem variar muito, mas os mais comuns costumam ser dor de garganta (especialmente ao engolir), rouquidão, tosse, sensação de corpo estranho na garganta, pigarro, engasgos ou sensação de sufocamento. Esses sintomas costumam oscilar ao longo do tempo, com períodos de melhora e de piora. Geralmente se acentuam no período noturno durante o sono ou logo pela manhã, ou também após a ingestão de determinados alimentos ou bebidas (ex: café, refrigerantes, chocolate, comidas ácidas ou condimentadas). É muito comum que o paciente já tenha tentado por diversas vezes o uso de antibióticos ou anti-inflamatórios sem a melhora esperada.
O médico otorrinolaringologista deve estar muito atento a esse diagnóstico, que como eu disse é muito comum, sem, no entanto, ignorar outras possíveis causas. Um exame de videolaringoscopia feito no próprio consultório médico ajuda muito pois descarta outras possibilidades diagnósticas, além de poder sugerir essa causa pelo aspecto da inflamação na laringe. No entanto, nenhum exame hoje é totalmente confirmatório desse tipo de laringite o que exige, na maioria dos casos, um teste terapêutico nos casos suspeitos (o famoso “pagar para ver”).
Uma vez feito a suspeita, o tratamento é feito basicamente com mudança de hábitos, em especial na dieta, evitando os potenciais agravantes do refluxo. Quando os sintomas são mais significativos ou quando as medidas gerais não são suficientes, inicia-se também o tratamento da causa – no caso, o refluxo – com medicamentos. A escolha da medicação vai depender de uma série de fatores como o perfil do paciente e as medicações já em uso.
Enfim, em caso de manifestar os sintomas de laringite referidos nesse post, procure um médico otorrinolaringologista. Caso a suspeita de refluxo seja elevada ou até confirmada pelo tratamento, é recomendado uma avaliação mais detalhada e um acompanhamento também com um médico gastroenterologista (médico especialista em refluxo gastro-esofágico).