25 nov Qual a relação entre enxaqueca e “labirintite”?
Antes de tudo é preciso explicar um pouco sobre enxaqueca. A enxaqueca é um distúrbio neurológico muito comum na população, mais comum em mulheres e podendo se manifestar em qualquer idade, causando grande prejuízo na qualidade de vida de boa parte dessas pessoas. Apesar de que as pessoas associam a enxaqueca à dor de cabeça que é característica dessa doença, na verdade o problema é bem mais complexo que isso.
Tentando explicar em termos leigos – muito embora até hoje ainda não se sabe exatamente como que a enxaqueca acontece dentro do cérebro das pessoas – a pessoa que tem enxaqueca tem um cérebro, digamos, mais sensível em relação a quem não sofre dessa condição. Essas pessoas costumam ter uma sensibilidade maior a uma série de estímulos, como estímulos visuais, sonoros, olfativos, de dor, de movimentos (como na cinetose, que é a condição em que a pessoa apresenta muitas náuseas ou vômitos em uma viagem em veículos como barco ou carro) bem como costumam ter de forma mais comum alterações psíquicas como, por exemplo, transtornos de ansiedade.
Então a enxaqueca não se resume apenas à dor de cabeça, apesar de que essa é a principal manifestação dessa doença. Há pessoas – isso é incomum – que inclusive podem ter apenas outros sintomas de enxaqueca como, por exemplo, auras visuais ou aumento da sensibilidade sonora e visual, mas como pouca ou nenhuma dor de cabeça. E dentre as outras manifestações da enxaqueca, uma delas se chama Migrânea Vestibular ou Enxaqueca Vestibular. Essa é a condição que ocorre quando a pessoa tem um problema de labirinto (“labirintite”) ocasionado pela enxaqueca.
A Migrânea Vestibular é uma forma muito comum de enxaqueca, e é considerado um dos problemas de labirinto mais frequentes na população. Essas pessoas costumam ter tonturas ou vertigem, associadas ou não a náuseas, vômitos ou sintomas auditivos. Geralmente esses sintomas ocorrem de forma espontânea e recorrente, mas também são comuns aos movimentos cefálicos ou aos estímulos visuais como a leitura e durante uma viagem de carro ou ônibus, por exemplo. Nessas pessoas os sintomas de tontura ou vertigem costumam ter os mesmos desencadeantes da dor de cabeça de enxaqueca como, por exemplo, um excesso no consumo de carboidratos simples ou cafeína, insônia, após grande estresse emocional ou próximo do período menstrual. Estão associados, na maioria das vezes, a outros sintomas de enxaqueca (dor de cabeça, aumento de sensibilidade sonora ou à luz, ou auras visuais). Nem sempre a dor de cabeça ocorre junto dos sintomas de tontura ou vertigem, o que pode dificultar o diagnóstico. O tratamento da Migrânea Vestibular costuma ser o mesmo da enxaqueca comum, e que costuma incluir orientações, mudanças no estilo de vida e, quando necessário, medicações. A reabilitação vestibular também pode ser indicada em alguns casos.
Mas fica aqui um alerta: Ter enxaqueca e sintomas de “labirintite” como os citados anteriormente não necessariamente significa que a causa desses sintomas é a enxaqueca. Há casos em que a enxaqueca pode estar presente de forma simultânea apenas por coincidência. Infelizmente não existe um exame complementar que faça esse diagnóstico (apesar de que alguns exames são importantes para excluir outras causas para os sintomas do paciente). Existem critérios clínicos para se fazer esse diagnóstico e esse é um papel do médico, de preferência com experiência na área de otoneurologia.