Perda do olfato após infecção pela COVID-19. O que fazer?

Perda do olfato após infecção pela COVID-19. O que fazer?

Nunca o sentido do olfato esteve tão em evidência como agora após o início da pandemia pelo COVID-19. A perda do olfato após a infecção por esse vírus é uma das sequelas mais comuns e pode trazer prejuízo considerável na qualidade de vida dessas pessoas.

A perda de olfato pelo COVID-19 acontece de forma súbita na grande maioria das vezes logo no início da infecção sendo, inclusive, um motivo para se desconfiar da presença do vírus mesmo na ausência de outros sintomas.

A grande maioria das pessoas acometidas tem sensação de diminuição total ou parcial do olfato, mas podem também ocorrer alteração da percepção do olfato, fazendo com que a pessoa perceba um odor diferente do esperado para aquela comida ou objeto (o que na maioria das vezes pode ser um odor bastante desagradável). Além disso, há casos que a pessoa pode ter a percepção de odores que na realidade não existem.

Acredita-se, pelas pesquisas mais recentes, que o vírus da COVID-19 danifique as células de sustentação do epitélio olfatório que fica na região do “teto” do nariz. Ou seja, é provável que o vírus não cause um dano direto, mas sim, indireto ao nervo olfatório.

Mas a grande pergunta para as pessoas acometidas por esse problema é: Afinal, será que o meu olfato vai voltar ao normal?

O que se vê na prática é que, felizmente, a grande maioria das pessoas tem seu olfato normalizado, mesmo que não seja feito nada, nas primeiras semanas de doença. Porém, há pessoas que, infelizmente, estão há meses com a perda de olfato sem melhora significativa, o que dá margem para acreditar que em alguns casos o dano à olfação pode ser definitivo. Mas ainda não sabemos se mesmo essas pessoas poderiam ter seu olfato recuperado também, mas com um tempo mais longo de recuperação.

E se eu for uma dessas pessoas em que o olfato está demorando a voltar ao normal? O que fazer?

A primeira a se fazer nesse caso é procurar por um médico especialistas em olfato: o otorrinolaringologista. Na avaliação médica, o otorrinolaringologista irá em primeiro lugar descartar outras causas que podem levar à perda de olfato (e que também seriam passíveis de tratamento). Considerando-se a causa da perda de olfato a infecção pelo COVID-19, o tratamento vai depender da severidade do sintoma, do perfil do paciente e especialmente do tempo de duração da queixa.

Se o tempo da queixa for de poucas semanas (geralmente até próximo de 2 meses), é sempre válido tentar o uso do corticosteroide – a não ser que haja alguma contra-indicação por parte do paciente – devido aos supostos mecanismos inflamatórios presentes no início da doença. O uso da medicação costuma ser por via oral mas o uso tópico com irrigação nasal pode ser uma possibilidade em alguns casos.

Já naqueles pacientes que tem um tempo maior de doença, ou que não obtiveram melhora com o uso dos corticosteroides, é necessário iniciar um tratamento de reabilitação do nervo olfatório.

Nesse caso, o principal método utilizado é o de treinamento olfatório que é uma espécie de “fisioterapia do olfato”. Por não apresentar efeitos colaterais, pode ser iniciado pelo paciente, inclusive, já desde o início do sintoma. O treinamento olfatório pode ser feito com alguns odores “caseiros” como café, cravo, mel, vinagre, pasta de dente de menta, essência de baunilha e suco de tangerina. Basicamente o paciente deve cheirar uma porção de cada um desses produtos por cerca de 10 a 15 segundos com intervalo de 15 segundos entre eles, duas vezes ao dia, por pelo menos 3 meses. Existem treinamentos olfatórios semelhantes, porém mais elaborados, com uso de essências que podem ser prescritas pelo médico otorrinolaringologista.

O importante é o paciente entender que o processo de recuperação com o treinamento olfatório é longo, e que pode demorar meses, e possivelmente anos em alguns casos. Então é necessário PACIÊNCIA!

Além disso, apesar da baixa evidência científica, é comum prescrever nessa fase algumas medicações com função anti-oxidante para aumentar a rapidez da reabilitação neural. Entre elas podemos citar o ácido alfa-lipóico, zinco, vitamina A, melatonina, citrato de sódio, ômega 3, dentre outras.

Nos casos mais incomuns de alteração da sensação de olfato, quando muito grave e com prejuízo importante da qualidade de vida, podem ser necessários medicamentos com ação no sistema nervoso central para diminuição da excitabilidade neural e, em último, procedimento cirúrgico para ablação do epitélio olfatório (ou seja, troca-se a alteração do olfato por uma perda de olfato), mas isso é muito raro ser necessário!

Enfim, de modo geral, apesar do grande incômodo ao paciente, o que se vê na maioria das pessoas é a melhora, no mínimo satisfatória, dos sintomas. Mas é importante estar sendo avaliado por um profissional capacitado e ter, acima de tudo, paciência na obtenção dos resultados =)