21 out O que são as manobras para tratamento de Labirintite?
Como já comentado em outro post aqui no blog, labirintite é um termo utilizado de forma genérica (e então, de modo incorreto), já que existem vários tipos de problemas diferentes que podem afetar o labirinto de uma pessoa.
O mais comum deles é a Vertigem Paroxística Posicional Benigna (VPPB) que, felizmente, é uma doença de labirinto curável (e que será mais detalhada em um post futuro).
Basicamente, explicando em termos leigos, dentro do labirinto existe um conjunto de “cristais” que estão grudados na parede do labirinto na sua porção central (chamada de utrículo) que auxiliam no papel do labirinto em detectar os movimentos da cabeça (Figura 1). Por vezes, esses cristais se “soltam” e se perdem em uma outra região do labirinto, que são os canais semi-circulares (Figura 1). Quando esses cristais se depositam, inadvertidamente, dentro de um (ou mais) desses canais, o paciente costuma sentir vertigem apenas em determinados movimentos da cabeça.
Figura 1: Imagem do labirinto mostrando a localização de duas de suas partes mais importantes: o utrículo (onde ficam localizados os “cristais”) e os canais semi-circulares (que é onde os cristais se depositam na VPPB).
Dessa forma, o tratamento desse tipo de “labirintite” é por intermédio de manobras de reposicionamento desses cristais, ou seja, uma série de posições sequenciais do corpo e da cabeça a fim de colocar esses cristais de volta ao lugar. Felizmente, nenhum medicamento será necessário para o tratamento dessa doença (não há medicamentos capazes de colocar os cristais de volta ao lugar!). Pode parecer mágica, mas o paciente é literalmente curado com as mãos!
Existem três pontos muito importantes na utilização das manobras para o tratamento da VPPB que precisam ser destacados:
1. A avaliação do paciente com esse tipo de problema não é tão simples assim, necessitando de experiência para que seja feita a identificação correta de qual canal (ou canais) estão os cristais – isso é feito a partir do tipo de movimento dos olhos que ocorrem durante a manobra de diagnóstico. Isso é importante pois para cada canal acometido existe mais de um tipo de manobra capaz de resolver o problema, cada uma mais adequada num determinado tipo de situação;
2. Aplicar a manobra inadequada além de não resolver o problema pode causar um grande desconforto ao paciente, não raramente causando, além de vertigem, náuseas ou vômitos. Esse tipo de “efeito colateral” da manobra, por vezes, pode ser intenso, e ocorrer mesmo com a manobra correta, e é fundamental que o profissional esteja preparado para lidar com esse tipo de situação;
3. Por fim, não adianta apenas tratar a doença com manobras, sendo importante também investigar a causa, tratando algum eventual distúrbio subjacente e evitando, na medida do possível, a recorrência da doença – que infelizmente pode acontecer mesmo assim =/. Além do mais, não é raro que pacientes com outros problemas de labirinto sejam diagnosticados erroneamente como tendo a VPPB por profissionais sem experiência na área, o que leva muitas vezes a anos de tratamentos infrutíferos, retardando a resolução do seu problema.
Devido principalmente ao último ponto, é importante que o paciente com VPPB seja avaliado por um médico otorrinolaringologista com experiência em otoneurologia a fim de que possa, não só ter a resolução de seu problema da forma mais segura possível, mas evitar a sua recorrência, descartando outras doenças associadas.