28 dez Existe “labirintite emocional”?
A relação entre as doenças do labirinto, popularmente conhecidas como “labirintites”, e as emoções é conhecida há muito tempo. Porém como exatamente acontece essa relação ainda gera muitas dúvidas.
Existe então uma doença de labirinto causada pelo estresse emocional que poderíamos chamar de “labirintite emocional”? Na verdade, não!
Por outro lado, acredita-se que o estresse emocional pode ter grande influência em algumas situações, e isso pode se dar de maneira diferente entre os pacientes.
Em uma primeira situação, existem alguns tipos de problemas de labirinto (não todos!), em que o estresse emocional pode agravar os sintomas de tontura, vertigem, zumbido ou sensação de falta de equilíbrio (típicos das doenças de labirinto). Apesar de que essa informação carece de um bom nível de evidência científica, é notório na prática médica que as pessoas que sofrem, por exemplo, de Migrânea vestibular ou Doença de Ménière podem ter um agravamento de seus sintomas pelas questões emocionais. Essas doenças de labirinto já costumam impactar sobremaneira a qualidade de vida do paciente, mas a questão emocional pode agravar a situação e levar a um ciclo vicioso de mais sintomas, mais estresse emocional. Há casos em que nesses pacientes o transtorno emocional desencadeado (ou agravado) pela situação pode se tornar um problema ainda maior que a própria doença de labirinto =/.
Existe uma segunda situação em que se acredita que o próprio transtorno emocional, principalmente os de ansiedade como o Transtorno de Pânico, Fobias ou o Transtorno de Ansiedade Generalizada, poderiam causar sintomas de tonturas, levando o médico a acreditar erroneamente em que há um problema de labirinto. Quando o paciente apresenta um ataque de pânico por exemplo, o paciente costuma apresentar uma tontura inespecífica, sem ilusão de movimento, mas geralmente acompanhada por outras queixas, como opressão no peito, falta de ar, taquicardia, sudorese e sensação iminente de morte ou de muito medo. Acredita-se que nesses casos, a tontura possa ser gerada por outros mecanismos, como por exemplo nesse caso, pelo aumento da frequência respiratória, levando a uma alteração do ph sanguíneo (alcalose metabólica), gerando a sensação de tontura.
Por fim, há ainda uma terceira situação, hoje chamada de Tontura Postural Perceptual Persistente (que será tema de um outro post futuramente) que é considerada um transtorno funcional do labirinto. Em palavras mais simples, um transtorno funcional é quando não há uma alteração da estrutura do labirinto, do nervo vestibular ou nas regiões que coordenam a sensação de equilíbrio dentro do cérebro. É apenas uma “maneira diferente” de funcionamento, que leva o paciente a ter uma sensação constante de tontura ou de falta de equilíbrio. A Tontura Postural Perceptual Persistente parece que pode ser desencadeada por vários tipos de eventos, desde doenças médicas gerais, outras doenças de labirinto, mas também transtornos emocionais. Essa talvez seja a situação mais próxima do que poderia ser chamado de “labirintite emocional”, já que existe uma relação muito grande dessa entidade e a presença de transtornos emocionais, em especial os de ansiedade já citados no parágrafo anterior. Porém, esse tipo de alteração pode acontecer mesmo em pacientes sem história desse tipo de problema….
Enfim, para saber em que situação o paciente vai se “encaixar”, é muito importante a avaliação inicial com médico com experiência em otoneurologia para que o diagnóstico da “tontura” do paciente seja realizado. Caso haja a suspeita de um transtorno emocional, seja ele causa ou não das queixas do paciente, outros profissionais como médicos psiquiatras e psicólogos serão muito importantes no tratamento e acompanhamento desse paciente.